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uando se fala em autoconhecimento pode surgir um questionamento paradoxal: Será que não me conheço? Eu convivo comigo mesmo desde que nasci, somente eu sei e sinto tudo o que me acontece, todas as dores, alegrias e tristezas, as feridas da vida me fizeram quem sou, somente eu vivi tudo isso para saber como me sinto. Como posso não me conhecer?
Acontecimentos intensos, positivos ou negativos, são marcados por emoções profundas, que ficam enraizadas em nossa memória, quanto maior a intensidade das emoções relacionadas ao evento mais este evento nos afeta. Emoções profundas podem estilhaçar nosso senso de Eu quando não temos repertório suficiente e vivências para lidar com elas, normalmente o período mais frágil é a infância que é quando nosso Eu está se estruturando. Emoções são mobilizadoras e nos levam a alguma ação, A raiva nos leva a destruir o objeto, o amor nos leva a nos aproximar do objeto, podemos ser tomados por essas emoções mobilizadoras, o que chamamos normalmente de impulsividade. Parte do preço que pagamos pela evolução da nossa consciência é conseguir refletir e tomar direções menos reativas, diante de uma raiva intensa podemos nos conter pois sabemos as consequências dos nossos atos. Podemos reprimir a raiva, negar que ela existe e esquecê-la, pois, ela entra em conflito com as normas sociais ou até mesmo com outras emoções em relação ao objeto da nossa raiva.
Podemos amar e odiar alguém ao mesmo tempo e reprimir o ódio pois, ele conflita com o amor. Essas emoções não conscientizadas, reprimidas e esquecidas continuam agindo no nosso inconsciente, por exemplo podemos reagir com raiva a um colega de trabalho pois ele nos lembra nosso pai autoritário, tudo isso se processa de maneira inconsciente simplesmente não gostamos do colega. Emoções pedem expressão, quando falamos temos a oportunidade expressá-las, assim evitamos que elas nos tomem com atitudes impensadas. Também sabemos que as emoções alteram muito da nossa fisiologia, no momento de um medo profundo, todo nosso organismo se prepara para uma reação de luta ou fuga, o coração bombeia mais sangue, levando a um batimento acelerado, isso quando sentimos o medo agora imagine que a emoção foi contida, não realizada, ela precisa se expressar e nosso organismo reage a ela sem o consentimento da consciência, faz nossa expressão corporal mudar, nossas células reagem, imagine anos negando ou não lidando com determinados eventos e emoções, isso vai favorecendo o aspecto psicossomático das doenças.
Portanto, sim! É muito possível que você não conheça totalmente os aspectos que o compõe a ser quem você é e muitas vezes a falta de sentido associado aos eventos sofridos somente te atrapalham. Normalmente quando alguém vem ao psicólogo é porque algum ponto da construção vivencial ruiu e faz tanto tempo que você vive e vê as coisas da forma que vê que você não faz a menor ideia do que deu errado. Parar, olhar e refletir sobre, expressar todas as dores livremente em um ambiente protegido é terapêutico e nos ajuda a ressignificar nossa experiencia, nos faz encontrar os sentidos dos eventos, expressar as emoções associadas e eles e assim seguir a vida com mais consciência.
Michel Zaharic
CRP 06/92133
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