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Olá, meu nome é Michel Zaharic, trabalho na PSO SP Norte e também sou psicólogo, especializado em Psicologia Junguiana, Psicossomática e Gestão de Pessoas.

A proposta é falar um pouco sobre saúde mental na Pandemia e embora ainda não existam muitos estudos fazendo a relação do impacto da crise do Covid 19 na saúde mental, eu acredito que podemos fazer algumas reflexões que nos auxiliem a lidar melhor com a Pandemia e mais especificamente com o isolamento social, que é a principal estratégia de combate ao vírus e que tem como objetivo mitigar o contágio e a disseminação do novo coronavírus.

As noticias tem alardeado um aumento de casos de depressão, síndrome do pânico, ansiedade e de outras durante a pandemia. Eu não vou me deter aqui sobre cada doença, mas vou refletir sobre como e porque a pandemia potencializa essas patologias.

A OMS define saúde como um completo bem-estar físico, mental e social e não somente uma ausência de doenças. Vamos pensar que essas três dimensões da saúde se inter-relacionam, problemas mentais podem ter consequências sociais e físicas, um problema físico pode resultar em consequências mentais e sociais e por fim um problema social pode resultar em problemas físicos e mentais.

O isolamento social nos retira do convívio social, nos retira do cinema, do clube, da praia, do shopping, da casa dos amigos e dos familiares. Precisamos manter a distância e evitar aglomerações. Nessas situações temos oportunidade de nos expressar através dos relacionamentos, no estádio de futebol expressamos raiva, na casa dos amigos podemos discutir política, falar sobre os nossas conquistas e frustrações. No shopping podemos dar vazão a ansiedade na busca por consumir e satisfazer nossos desejos. E mesmo no trabalho presencial, temos diversas interações com colegas e clientes que dão todo um colorido emocional para a nossa vida.

Todas essas interações acabam por criar uma rotina que se sustenta durante anos e a qual nos adaptamos e de alguma maneira nos é confortável.

Os seres humanos são gregários, somos seres sociais, nosso psiquismo se estrutura a partir das relações familiares, somos quem somos por ter nascido em determinada família com aquela determinada constituição específica.
Quantos vezes você não ouviu? “Sou o que sou por causa da minha mãe ou do meu pai” Bem…toda essa rotina social nos da oportunidade de expressão emocional e cada um constrói essa rotina de maneira que lhe mais confortável.

Agora eu gostaria que vocês pensassem em uma represa, pense que a água represada são nossas emoções e desejos e que as comportas são as situações sociais do nosso dia a dia. E de uma hora para outra a vazão das comportas foi radicalmente reduzida, o que vai acontecer com a represa? Ela pode transbordar, pode rachar a represa… a água vai exercer uma força sobre a represa podendo ocasionar um acidente se não houver uma vazão adequada, e assim são nossas emoções, elas buscam vazão adequada e as interações sociais são meios de expressar essas emoções.

Uma agressividade acumulada pode resultar em ataques do coração, aumento de ansiedade. Uma agressividade reprimida, que não pode mais se expressar pode virar uma depressão ou até mesmo uma crise de pânico.
Por isso e fundamental que busquemos saber quais são nossas necessidades emocionais para construir uma relação saudável com a expressão dessas emoções. Essa expressão emocional contida no isolamento pode acelerar o aparecimento desses sintomas, que são uma expressão da dinâmica psíquica.

É muito importante que prestemos atenção as nossas emoções e é exatamente esse o trabalho do psicólogo na psicoterapia clínica, acolher a expressão das dinâmicas emocionais e em conjunto buscar o significado dessas emoções, para que possamos lidar melhor com essas situações que nos afetam.

Eu gostaria de perguntar como você se sente no isolamento? Você sente como um castigo? Ou como um sacrifício necessário? Você sente que está protegendo aqueles que ama? Ou sente que está sendo privado da sua vida? Essa diferença de sentimentos pode ser explicada no sentido que damos ao isolamento.

Pense em um prisioneiro, aquele que está na solitária ou até mesmo na prisão com outras pessoas. O preso está privado da sua liberdade por não conseguir conter os seus impulsos de agressividade ou de ambição. Muitas vezes é o mesmo que fazemos com crianças pequenas, colocamos de castigo, a privando de algo por ela não conseguir conter os seus impulsos. A prisão se torna um castigo pois o preso não consegue mais expressar esses impulsos que tendem dentro da prisão a ficar mais e mais fortes por não conseguirem um meio de expressão. O preso não escolheu estar na prisão, foi colocado lá na esperança que aprenda a conter esses impulsos e voltar a conviver com a sociedade.

Agora pense em um eremita ou em um viajante, ele fica sozinho na natureza, longe de todas as relações, para o eremita a ampliação das emoções é uma oportunidade de encontro consigo mesmo, ele encontra no isolamento a oportunidade de aprender a conviver consigo mesmo, ele escolheu o isolamento e busca a sabedoria e o conhecimento através do isolamento, se coloca no papel do aprendiz. O sentido do isolamento determina se nos sentimos castigados, prisioneiros ou se nos sentimos em contato conosco e aprendendo com a experiência.

Me vem a imagem daquele filme com o Tom Hanks, o Náufrago, em que o protagonista fica isolado em uma ilha deserta, a aprende a lidar com a ansiedade e a necessidade de controle, quando se vê sem controle no meio do oceano tentando voltar para casa, abandona a vela e deixa se levar pela maré, aprende e transforma o castigo em sabedoria. Essas são duas possibilidades de vivenciar o isolamento. E você como vivencia o isolamento? Você é mais um prisioneiro ou um aprendiz?

Se você tem se sentido muito mais como um prisioneiro, procure equilibrar essa percepção compensando com outros significados, me sinto preso mas nunca estive tão próximo da família, me sinto preso porém tenho feito cursos e aprendido muito com essa pandemia. Somos capazes de dar muitos sentidos a uma mesma vivência.

Aproveite e escute suas emoções, nomeie o que está sentido, fica mais fácil de lidar quando conseguimos traduzir nossas emoções em palavras ou imagens, procure falar com alguém ou escreva como se sente, quando você expressa suas emoções elas perdem um pouco do poder de nos afetar de maneira negativa.

Obrigado e fiquem bem.