S
inta seus pés tocarem a terra, cuidado com a borda, experimente que você vai gostar, você não pode dormir na casa do seu amigo, cumprimente as pessoas, aprenda que nem tudo que você quer você vai ter, fiz o seu prato predileto, você é o meu melhor amigo, olhe para estrelas, faça isso direito, você não consegue, você é estranho, eu te amo, sua mãe morreu, esse é o seu irmão, você conseguiu, eu não quero namorar, você é feio. Meninas não gostam de futebol, homem não chora, você é mulherzinha, nunca ninguém vai querer namorar com você, ela é linda e magra, seu cabelo é feio, você é feia e gorda, não coma tanto, você é minha princesa, todos querem você, eu não quero você.
Olhares e frases que carregam uma carga emocional, como me olham? Como eu me vejo? Eles me fazem quem eu sou ou eu sou apesar de como me olham? Vozes que se internalizam e continuam falando dentro de nós, se agrupam em um comitê de juízes e nos castigam mais que a própria realidade, não as questionamos e as vezes achamos que são nossas vozes, eu sou lindo, sou uma porcaria, eu não consigo, as vezes acreditamos que as vozes vêm de fora, todos me perseguem, tenho medo do que vão pensar, eu não gosto das pessoas. O que fazemos com isso? Como processamos e entendemos o que sentimos? Como criamos vozes que desafiam a correnteza que as vezes nos arrasta para um lugar irreal?
Precisamos nos ouvir, discordar, ressignificar, traduzir e recriar, expressar e descarregar todo o peso, dar novos sentidos, resgatar um sentido perdido no caminho. Muitas vezes tentamos lidar com as vozes buscando seguir um roteiro pré-estabelecido pela sociedade, seguimos um caminho na esperança de alcançar a terra prometida, sair do lugar onde as vozes nos colocam, elas podem nos inflar ou nos rebaixar. Identificar as vozes talvez seja o primeiro passo para silenciá-las e nesse silêncio talvez olhar a realidade e quem sabe se identificar com o que se vê.
Michel Zaharic
CRP 06/92133
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